A FORMAÇÃO DO CARÁTER E A ESPIRITUALIDADE DO MISSIONÁRIO



            O caráter de um cristão é forjado ao longo dos anos, ou seja, leva tempo. Trata-se de um processo que o acompanha ao longo da vida, do ministério. Pois convém afirmar que missionários não são anjos, mas sim, seres humanos, de carne e osso, com heranças genéticas e emocionais como todo mundo.

            Todavia, o novo nascimento cria no indivíduo uma nova criatura e esta passa a ter uma reformulação no seu ser que se desenvolverá ao longo de toda existência, o que chamaríamos de processo de santificação. Sendo assim, missionários devem ser marcados por amor intenso a Cristo e obediência a sua Palavra. Isto se identificará com profunda vida de oração, adoração, e temor a Deus, tanto em nível privado quanto público.

            Desta forma, um caráter que prime por transparência, honestidade, humildade, mansidão, bondade, misericórdia, pureza de coração, coração de servo e o fruto do Espírito, devem ser a marca daquele que pretende servir em tempo integral como obreiro do reino. Estas qualidades devem estar presentes em todos, e impreterivelmente na vida e ministério do missionário, já que se dispõe especificamente como um representante de Cristo aos povos. Ele deve estar disposto a tomar a sua cruz diariamente, negar-se a si mesmo, e seguir o Mestre, tanto em tempos calmos quanto em tempos turbulentos (Mt 16.24; Lc 14, 27; Gl 5. 16-26; At 20.17-35; 2Co 4.1-12).

            Missionários devem exalar o bom perfume de Cristo e ter a consciência limpa e santa diante de Deus, a fim de não serem abatidos ou tentados pelas calúnias e interesses daqueles que não estão dispostos a tomar a cruz de Cristo em suas vidas e ministérios (2Co 2.14-17; 1Tm 3.9; 2Co 6.4-10; 1Ts 2.1-12).

            O MISSIONÁRIO E A SAÚDE EMOCIONAL

            Missionários devem levar em consideração seu histórico de vida, incluindo sua infância, adolescência e juventude. Experiências emocionais marcantes tanto em casa como fora dela, durante a formação da mente e do caráter certamente colaborarão para um caráter próprio, com traços bem nítidos.

            Diante disso, detectar certas condições potenciais de desequilíbrio emocional, como  traumas e distúrbios psicológicos torna-se vital, tendo em vista que normalmente tais condições se farão nocivas e muito prejudiciais ao seu trabalho no campo missionário. Um exemplo uma pessoa com sérios problemas de autoestima revelará patologicamente tal marca quando estiver se relacionando com seus colegas no campo, ostentando uma atitude arrogante e independente dos outros missionários.

            Definitivamente é melhor descobrir o tumor antes de entrar no avião e tratá-lo, do que ter que extirpá-lo no campo, ou ter de trazer o obreiro de volta ao Brasil.

            Neste raciocínio, não se trata de esperar ou querer que o missionário seja um anjo ou que tenha vindo de uma família perfeita. Alguns missionários são oriundos de famílias pobres, sofridas e mesmo disfuncionais, essa condição é exatamente a medida que os tornarão aptos a enfrentar situações de vida e ministério bem adversas no campo. Por outro lado, alguns, advindos de lares estáveis e com excelente formação acadêmica, revelar-se-ão insensíveis, egoístas e prepotentes, ou coisa, piores.

            A boa psicologia está aí para auxiliar o futuro missionário. Cabe a Igreja, junta ou organização missionária, enveredar todo o esforço necessário para que o irmão ou a irmã, ou mesmo o casal sejam devidamente ajudados neste sentido.

            Quando o missionário toma conhecimento de seus traumas, fraquezas e debilidades, certamente ficará mais fácil administrar suas emoções, bem como, atentar-se para a ajuda de seus irmãos missionários, por conseguinte, será abençoado. Evidentemente as debilidades ou fragilidades emocionais de cada missionário serão sempre visíveis aos outros.

Uma tomada de posição consciente, cheia do amor de Cristo por parte de toda uma equipe, trará sem dúvida, experiências fantásticas com Deus onde a graça imperará e o amor de Cristo cobrirá multidões de pecados. 

Relacionamentos no campo sempre são desafios para os missionários. Enfrentar os defeitos e fraquezas é o caminho mais correto. A receita não pode dispensar oração, misericórdia, perdão, graça e ajuda. É ajudando uns aos outros em nossas fraquezas que glorificaremos a Cristo em serviço missionário. (1Co 9.22; Hb 4.15).

            Devemos estar conscientes que jamais seremos perfeitos nesta vida, e que certos traços essenciais da personalidade talvez não alcancem mudança aqui. Mas se admitirmos que precisamos dessas mudanças e corajosamente lutarmos em oração, sendo transparentes e sinceros com Deus, bem como, com nossos colegas, cultivaremos o terreno com a semente do evangelho de Cristo. Sendo assim, o diabo não achará lugar na equipe, e assim não envenenará nem destruirá a comunhão dos irmãos, prejudicando todo o trabalho missionário (1Ts 5.14; Ef 4.25; Gl 5.15; Hb 12.15).

            Finalmente, a privacidade e integridade pessoal do missionário deve ser sempre o modo de todo e qualquer diagnóstico e tratamento, principalmente na área emocional. Deve-se levar em conta que em algumas situações como, por exemplo, um campo transcultural num país em guerra ou outra extrema condição de vida, mesmo missionários aparentemente estáveis e fortes emocionalmente poderão entrar em crise psicológica, sendo necessário um retorno imediato ao seu país de origem a fim de ser tratado ou até mesmo sofra uma mudança de campo missionário. Todo missionário é um vaso de barro.

            A profundeza da alma de cada um só Deus conhece e a mesma graça que separa é a que capacita e que compreende, tem misericórdia e quer o bem dos filhos de Deus, particularmente daqueles que tudo deixaram: terra, família e conforto para servir o Mestre numa terra distante. É imprescindível que não se conclua que fraquezas, traumas e limitações emocionais significam falta de espiritualidade. Estamos todos na mesma categoria de pecadores remidos pela graça, carentes de ajuda divina o tempo todo e da ajuda dos irmãos mais próximos (2Co 4.7; 11. 1, 16).
           


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