A IGREJA LOCAL E MISSÕES



                1. O QUE SIGNIFICA IGREJA LOCAL

                Para delimitar o âmbito dessa palavra, o primeiro passo é entendermos o que ela significa. Em nossos dias convivemos com três modos de conceituar “Igreja”:

                1º) Conceito não-bíblico – a Igreja como templo, ou seja, o prédio onde os cristãos se reúnem para cultuar a Deus. Embora este conceito seja usualmente empregado pelos crentes, todos entendemos que é uma idéia errada. Se assim não fosse, chegaríamos ao absurdo de dizer que a obra missionária só deveria ser realizada dentro das paredes do templo, como o faz algumas denominações. Todavia, inconscientemente, muitos cristãos só se têm preocupado em que os pecadores venham ao templo, quando devemos ir a eles lá fora, onde estão. 

Por outro lado, pode haver o perigo de serem gastos recursos e esforços demasiados com o templo, em detrimento das pessoas e da obra evangelizadora em si. E sabemos que muitas Igrejas estão fazendo isto hoje! Um dos sinais de decadência  de um movimento cristão é essa preocupação. Veja-se o caso da Igreja Católica. 

                      O que atrai as pessoas não é o templo, mas a manifestação de Deus nas reuniões.

                2º) Conceito extra-bíblico – a Igreja como uma denominação. Embora essa maneira de empregar o nome Igreja seja errada, pode levar a um sectarismo: “Só a minha Igreja é que está certa”, o que é prejudicial ao trabalho missionário. Evidentemente, uma denominação ou movimento é Igreja, por englobar um número de cristãos. Mas na Bíblia não se menciona denominações nem movimentos – há apenas a Igreja do Senhor Jesus Cristo.

                3º) Conceitos Bíblicos
a)    Igreja como o grupo de cristãos que se reúnem em um local como se vê em Romanos 16.5 e 1Coríntios 14.35;
b)   Igreja como todo o corpo de cristãos de uma cidade. Atos 11.22 e 13.1; 15,4;
c)    Igreja como todo o corpo cristão da terra – Igreja universal. Efésios 5.32; 2.21,22  e  Mateus 16.18.

                Nesta apostila empregaremos alternadamente, conforme a necessidade, estes três conceitos bíblicos de Igreja.
                A partir destes conceitos definiremos “âmbito da Igreja” como:

                TODA A COMUNIDADE CRISTÃ QUE PROFESSA AS DOUTRINAS E PRÁTICAS CENTRAIS DE MISSÕES.

                Partindo deste ponto, podemos analisar em que aspecto e por que o evangelista deve Ter cuidado para não ultrapassar os limites do âmbito da Igreja em seu trabalho.
                Podemos fazer a nossa proposição dizendo que o missionário deve trabalhar com a Igreja, através da Igreja e para a Igreja. Por quê?

1.    Porquê a Igreja é depositária do Evangelho – assim como o povo de Israel – a Igreja da antiga aliança – era depositária dos oráculos divinos na antiga dispensação (Rm 3.2; 9.4 e 5), assim a Igreja cristã tem a guarda da mensagem divina nesta dispensação. Ao falar sobre a Igreja, Cristo disse que as chaves estariam em suas mãos (Mt 16.18 e 19; Jo 20.23). Disse que os discípulos seriam as testemunhas (Lc 24.46 a 48). Assim como Israel foi encarregado de escrever, selecionar e compor o cânon do Antigo Testamento, também a Igreja teve o privilégio de fazer o mesmo com o Novo Testamento. Daí porque não podemos aceitar os livros apócrifos que constam do Antigo Testamento da Igreja Romana, pois ninguém tem autoridade para tirar ou acrescentar alguma coisa às Escrituras.

2.    Porquê a obra missionária é encargo da Igreja – 1Pedro 1.10 a 12 diz que os anjos “desejam perscrutar” as coisas referentes à salvação e ao Evangelho, dando a entender que não lhes pertence compreender estas coisas. Por outro lado, os não-salvos não poderão pregar o Evangelho por razões óbvias: não compreendem as coisas espirituais (1º Co 2.14), seriam cegos guiando cegos (Mt 15.14). Assim como Israel, no seu tempo, tinha o encargo de anunciar o deus verdadeiro ao mundo, agora a Igreja tem essa responsabilidade, e somente ela, pois a disseminação da mensagem do Evangelho está em suas mãos.

2.1 - A Igreja recebeu a ordem de evangelizar o mundo. Antes de subir aos céus, o Senhor deixou a ordem mais importante aos Seus discípulos: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura"(Mc 16.15). "Ide... fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19). Está bem claro que o propósito de Deus para a Sua igreja é a evangelização do mundo
.
Fica claro que o povo de Israel do Antigo Testamento é a Igreja do Novo Testamento; portanto o plano de Deus para o Seu povo, no nosso caso, a Igreja, é a evangelização do mundo. Deus não tem outro meio para espalhar a mensagem do evangelho e salvar vidas no mundo, a não ser a Igreja. Mas, infelizmente, o que está acontecendo nas igrejas, hoje, tem demonstrado claramente que, do mesmo modo que o povo de Israel, ela perdeu a visão dos propósitos de Deus.

3.    Porquê o missionário é parte da Igreja – Se ele é salvo como todo missionário precisa ser, então ele é membro do “corpo de Cristo” (1º Co 12.12 e 13). Além disso, pertence a uma organização evangélica, ou o que é melhor, a uma Igreja local. 

    Todo o missionário deve estar filiado a uma congregação, de onde ele parte para seus trabalhos e para onde volta (At 13.1 a 3; 14.26 a 28). Não é aconselhável ser “uma andorinha só”. É necessário Ter uma família cristã que apoie e a quem deve prestar contas de sua vida e trabalho.

4.    Porquê o missionário só fará a obra se tiver o apoio da Igreja – Apoio em vários sentidos:

a)    apoio espiritual – em oração, especialmente;
b)   apoio moral – em presença no trabalho e estímulo ao trabalho;
c)    apoio material – no trabalho de aconselhamento, por exemplo;
d)   apoio financeiro – contribuindo com recursos para a evangelização. Diante dessas razões, em que aspectos deve o evangelista Ter cuidado para não realizar a sua obra fora do âmbito da Igreja? (Alguns já estão acima sub-entendidos):

1º) Doutrinariamente – A mensagem do missionário precisa estar dentro dos ensinos professados pela Igreja. Evidentemente, às vezes, as Igrejas locais não são uniformes quanto a todos os aspectos doutrinários. 

O missionário deve ater-se aos pontos fundamentais do Evangelho, evitando falar sobre detalhes em que existem divergências. 

O missionário pode Ter, em alguns aspectos não fundamentais, opiniões que não concordam com aquelas da Igreja ou Igrejas com as quais vai trabalhar. É preciso que ele evite estes aspectos superficiais em sua mensagem, visando ao que é básico para a salvação dos pecadores, no que existe concordância na Igreja.

2º) Buscando apoio – No livro dos Atos dos Apóstolos, vemos que, o  apóstolo Paulo, em suas viagens missionárias, sempre se dirigia primeiro às sinagogas. Fazia isto porque os judeus, sendo os depositários da revelação do Antigo Testamento, tinham certa primazia no ouvir o Evangelho  (At. 13.46). Paulo e Barnabé disseram: “Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a Palavra de Deus”, mas é claro que, se os judeus aceitassem o Evangelho e se convertessem, Paulo teria apoio para continuar seu trabalho com os gentios. Infelizmente os judeus, em sua maioria, rejeitaram, mas de qualquer modo fica um princípio: o missionário ao fazer uma campanha em uma localidade, deve buscar primeiro o apoio das Igrejas cristãs da cidade. 

Como mencionamos anteriormente, esse apoio tem quatro aspectos, todos eles fundamentais para o  sucesso da obra evangelista. Para obter tal apoio, o missionário precisa observar alguns princípios:

a)    Respeitar a programação das Igrejas locais e chegar a um acordo para que os trabalhos missionários não venham atrapalhar os trabalhos das Igrejas.
b)   Entender a metodologia missionária dessas Igrejas. Se quiser um método novo, deve Ter cautela e explicá-lo bem aos líderes, para que estes o apoiem.
c)    Respeitar os costumes de vida e a forma litúrgica dos cultos dessas Igrejas.
d)   Usar os princípios éticos do ministério para com os líderes das Igrejas.
e)    Acertar com a liderança das Igrejas a questão financeira: quem arcará com os custos do trabalho, o destino das ofertas, etc.
3º) Os objetivos – Todo o resultado da obra missionária deve beneficiar as Igrejas locais, que participam do trabalho. A não ser quando o objetivo do trabalho seja implantar uma Igreja em local em que ainda não existam Igrejas da mesma fé e ordem. 

O missionário tem o trabalho de ganhar pecadores, mas o crescimento espiritual desses conversos será orientado pelas Igrejas locais e seus líderes. Todo trabalho missionário que não beneficia as Igrejas é contraproducente, porque prejudica também os conversos que ficam sem apoio em sua vida cristã.

                         Deve lembrar o missionário o compromisso com a genuína Palavra de Deus, lembrando dos exemplos deixados:
¨    Pela Igreja nos dias primitivos, dando muita importância a esse ministério (At 5.41 e 42);
¨    Por Paulo, um grande mestre. Foi maravilhosamente usado por Deus nesse mister. Ali tanto há elementos para adultos como para criancinhas espirituais. Ele e Barnabé, por exemplo, passaram um ano todo ensinando (At 20.20 a 31). Em Corinto ficou um ano e seis meses (At 18.11). Seus últimos dias em Roma foram ocupados com o ensino da Palavra (At 28.31).

                2. O QUE SIGNIFICA IGREJA LOCAL

                Segundo a Bíblia Vida Nova, o vocábulo “Igreja”aparece duas vezes nos evangelhos e, em ambos os casos, foi proferido por Jesus. A primeira tem caráter universal e está registrada em Mateus 16.18, quando Ele afirmou: “Eu edificarei a minha Igreja...” é óbvio que este texto refere-se aos crentes de todas as épocas, que formam a Igreja de Cristo, comprada com Seu próprio sangue, e que vem exercendo seu papel militante em todo o mundo, através dos séculos, desde que foi inaugurada no dia de Pentecostes. 

A segunda vez que o Mestre aludiu ao mesmo termo foi em Mateus 18.17. Aqui  o Senhor está tratando com a Igreja Local”  a comunidade de crentes e a sua forma restrita, na localidade em que está situada, pois somente aí poderia Ele orientar que o membros faltoso viesse a sofrer as sanções disciplinares, como informa o texto acima. Isto significa que o próprio Jesus legitimou a Igreja local como fórum soberano para as decisões à ela inerentes (At 14.26 - 28; 15. 40 - 41; 20. 17 – 38).

                O que se vê é a ênfase doutrinária da Bíblia colocada sobre a Igreja local. Esta é constituída pelos seus membros individualmente. O conjunto delas em todo o mundo, tendo como base as doutrinas fundamentais dos apostolos, formam a Igreja Universal,  cuja cabeça é Cristo (Ef 1.22). Mas o Senhor há de tratar, sempre, com as Igrejas locais e de cada uma delas há de cobrar a responsabilidade, incluindo-se aí a missionária.

                É preciso, de início, entendermos conceitualmente o significado de Igreja local, para que possamos então estabelecer o vínculo entre ela e o trabalho de missões.

                Segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, a palavra grega ekklesia (igreja), literalmente, refere-se à reunião de um povo, por convocação (gr. Ekkaleo). No Novo Testamento, o termo designa principalmente o conjunto de povo de Deus, em Cristo, que se reúne como cidadãos do reino de Deus (Ef 2.19), com o propósito de adorar a Deus. A palavra Igreja pode referir-se à uma Igreja local (Mt 18.17; At 15.4) ou à Igreja no sentido universal (Mt 16.8; At 20.28; Ef 2.21-22).

1.    A Igreja é apresentada como o povo de Deus (1º Co 1.2; 10.32; 1º Pe 2.4-10), o agrupamento dos crentes redimidos como fruto da morte de Cristo (1º Pe 1.18-19). É um povo peregrino que já não pertence a esta terra (Hb 13.12-14), cujo primeiro dever é viver e cultivar uma comunhão real e pessoal com Deus (1º Pe 2.5; ver Hb 11.6).

2.    A Igreja foi chamada para deixar o mundo e ingressar no reino de Deus. A separação do mundo é parte inerente da natureza da Igreja e a recompensa disse é Ter o Senhor por Deus e Pai (2º Co 6.16-18).

As Igrejas da mesma fé e ordem procuram abrigar-se sob o teto de uma mesma organização para fins de uniformidade doutrinária, padrão administrativo e objetivos comuns. A esse agrupamento chamamos de convenção ou ministério no caso da Assembléia de Deus.

                No caso das Assembléias de Deus, o nosso órgão máximo é a CGADB – Convenção-Geral das Assembléias de Deus no Brasil. A existência desta organização, todavia, não retira a soberania da Igreja local, nem libera de cumprir os deveres que lhe cabem, segundo a Palavra de Deus. Não se encontra, em nenhuma parte da Bíblia, o Senhor cobrando atitudes de ministérios, convenções ou outros órgãos similares. Quando se trata de exigir, Ele sempre se dirige à Igreja local.

                É portanto a Igreja local a base através da qual o Senhor há de trabalhar os seus objetivos.

                3. DESTRUINDO OS MITOS DA OBRA MISSIONÁRIA NA IGREJA LOCAL

                Falar em mitos da obra missionária soa um pouco estranho, porque este assunto é tratado, quase sempre, sob a ótica do emocionalismo, sem que haja uma análise mais crítica de todos os pontos que o envolvem.

                1º) Só Igrejas grandes ou ricas podem fazer missões – esta é uma falsa idéia que circula em muitas Igrejas de porte médio ou pequeno como justificativa para o seu não envolvimento. Segundo este conceito, Igrejas que disponham de pouco recurso jamais poderão comprometer-se com trabalho missionário, nem mesmo enviar missionários. 

Mas a prática de países onde a tarefa de fazer missões já está consolidada, revelam que os maiores recursos saem exatamente de Igrejas pequenas, que somadas conseguem superar muitas vezes os alvos das Igrejas grandes ou ricas. A Igreja de Antioquia não esperou enriquecer-se para enviar os seus primeiros missionários (At 13.2). 

Quando a Assembléia de Deus foi fundada no Brasil, os missionários Gunnar Vigren e Daniel Berg não esperaram que a Igreja crescesse o suficiente para então decidir pelo envio de alguém. A nossa história descreve que já em 1913, apenas dois anos depois do início da obra, o irmão José de Matos foi enviado a Portugal para ali iniciar o movimento pentecostal. 

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