A NECESSIDADE E OS CLAMORES ESPIRITUAIS DA CHINA
“Livra
os que estão sendo levados para a morte, e salva os que cambaleiam indo para
serem mortos. Se disseres: Não o soubemos, Não o perceberá aquele que pesa os
corações? Não o saberá aquela que atenta para a tua alma? E não pagará ele ao
homem, segundo as suas obras?”. (Prov.
24.11, 12).
É
uma verdade solene e grave que cada ato nossa na presente vida – e também cada
omissão nossa – tem um resultado direto e importante tanto em nosso próprio
bem-estar futuro como no de outros.
E,
na qualidade de crentes, convém que tudo que venhamos a fazer, que o façamos em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Em
Seu nome e com sincera oração pedindo a Sua bênção, é que estas páginas foram
escritas;
Em
Seu nome e com sincera oração pedindo a Sua bênção, que sejam lidas. Sinto-me
profundamente na obrigação de apresentar os fatos contidos nestas páginas aos
corações e consciências do povo do
Senhor, na qualidade de mordomo fiel.
Eu
creio também que estes fatos devem produzir algum fruto no coração de cada
leitor cristão. O fruto legitimo vai indubitavelmente ser – não palavras vãs de
simpatia oca, mas – oração fervorosa e eficaz, e um esforço extenuante e altruísta
par a salvação dos ignorantes.
E,
se em qualquer caso deixarem de produzir este fruto, o autor insiste na
consideração das solenes palavras do cabeçalho deste artigo:
“Livra
os que estão sendo levados para a morte, e salva os que cambaleiam indo para
serem mortos. Se disseres: Não o soubemos, não o perceberá aquele que pesa os
corações? Não o saberá aquele que atenta para a tua alma? E não pagará ele ao
homem segundo as suas obras?”
Logo
no começo do Seu ministério, o Senhor Jesus ensinou ao Seu povo que eles deviam
ser a luz – não de Jerusalém, nem da Judéia, nem mesmo da nação judaica, mas –
do mundo.
E
Ele os ensinou a orar – não como pagãos, que usam repetições vãs e sem
significado; nem como pessoas do mundo, que primeiro e principalmente pedem
(quando não é só isso que fazem) por suas próprias necessidades e benefícios
particulares: “Porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade,
antes que lho peçais.
Portanto,
vós orareis assim:”
“Pai nosso que estás nos céus,
Santificado
seja o teu nome;
Venha o
teu reino,
Faça-se
a tua vontade,
Assim na
terra como no céu”.
E
só depois destes pedidos, em um segundo plano, é que devem ser apresentadas as
posições pessoais. Até mesmo o comedido: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”
vem a seguir.
Nos
dias de hoje esta ordem não tem sido invertida com demasiada freqüência? Os
cristãos não sentem realmente quase sempre, como também agem, como se tivessem
sido incumbidos de começar com “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”,
virtualmente concluindo com, “se for consistente com isto, que o Teu nome seja
santificado também”?
E
será que Mateus 8.33, “Buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”, não tem sido praticado
assim, até mesmo entre os discípulos professos de Cristo:
Buscai
primeiro todas estas coisas (alimento e roupa, saúde, riqueza e conforto) e,
então, o reino de Deus e a Sua justiça? Em lugar de honrá-lO com as primícias
de nosso tempo e energia, será que não nos contentamos em lhe oferecer os
fragmentos que restam quando nossas próprias supostas necessidades já foram
supridas?
Enquanto
nos recusamos a levar os dízimos à Sua casa do tesouro, e dessa forma provar o
Senhor, será que podemos nos admirar que Ele não abra as janelas do céu e não
derrame sobre nós a plenitude da bênção que desejamos?
Temos
um exemplo notável de como poderíamos buscar primeiro o reino de Deus e a Sua
justiça, na vida e na morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Ao ressuscitar dos
mortos, antes de subir ao alto. Ele comissionou o Seu povo a proclamar em todo
o lugar as boas novas da salvação – plena e livremente – pela fé em Sua obra
consumada.
Este
dever Ele transmitiu a nós da maneira mais inequívoca e exata, dizendo: “Ide
por todo o mundo lê pregai o evangelho a toda criatura”. Infelizmente a igreja
falhou no cumprimento desta ordem. É triste observar que tão perto do fim do
século XIX da era cristã, ainda existem porções imensas de nosso globo
totalmente destituídas, ou muito inadequadamente providas dos meios da graça e
do conhecimento da salvação.
Para
capacitar nossos leitores e perceberem a vasta extensão dos distritos mais
remotos do império chinês, sugerem uma comparação desses distritos com aqueles
países que estão mais próximos de nós.
Todo
o continente europeu tem uma área de 9.607.749 quilômetros
quadrados; a área da Manchúria, a Mongólia, os territórios do noroeste e o
Tibete juntos são de 10.233.380 quilômetros quadrados.
Estas
extensas regiões contêm muitos milhões de seres que são nossos semelhantes,
mas, exceto os nossos quatro missionários em Yangkow, eles não têm qualquer
missionário. Estão perecendo e ninguém os socorre.
Nenhum
missionário reside entre eles para revelar aquela sabedoria, o bem do qual se
diz que “melhor é o lucro que dá do que o da prata, e melhor a sua renda do que
o ouro mais fino”. Por todo esse imenso território, maior do que todo o
continente da Europa, com a exceção mencionada acima, não há um só embaixador
de Cristo enviado por qualquer igreja protestante da Europa e da América para
levar a palavra da reconciliação e para falar aos homens em nome de Cristo. “Rogamos
que vos reconcilieis com Deus”. Quanto tempo este estado de coisas vai
continuar?
Pense
nos mais de oitenta milhões que estão fora do alcance do evangelho nas sete
províncias onde os missionários estão há mais tempo. Pense nos mais de 100
milhões nas outras onze províncias da China propriamente dita, fora do alcance
dos poucos missionários que estão lá. Pense nos mais de vinte milhões que
habitam as vastas regiões da Manchúria, Mongólia, Tibete e dos territórios do
noroeste, que excedem toda a extensão da Europa – um total de mais de 200
milhões fora do alcance de todas as agências existentes – e diga como poderá.
O nome
de Deus ser santificado por eles,
O seu
reino vir entre eles, e
A Sua
vontade ser feita por eles?
O
nome e os atributos de Deus são coisas de que eles nunca ouviram. O Seu reino
não está sendo proclamado entre eles. A Sua vontade não lhes tem sido revelada!
Você
crê que destes milhões cada um tem uma alma preciosa? E que “não existe nenhum
outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que eles sejam salvos”,
além do nome de Jesus? Você crê que só Ele é “a Porta do aprisco”, “o Caminho,
e a Verdade e a Vida”? “Que ninguém vem ao Pai senão por Ele”? Neste caso,
pense no estado daqueles que não estão sendo salvos e examine solenemente o seu
coração à vista de Deus, para ver se está fazendo o seu máximo para torna-lo
conhecido entre eles.
Apresentamos
uma visão resumida e superficial da situação e necessidades da China. Para
apresentar em detalhes cada província, teríamos de dedicar mais tempo e espaço
do que dedicamos à consideração de todo o império. Vimos como Deus abençoou os
esforços que foram despendidos, e tentamos apresentar as facilidades que
atualmente existem para uma evangelização mais extensa deste país.
Temos
buscado obedecer à grande ordem do nosso Salvador ressuscitado: “Ide por todo o
mundo e pregai o evangelho a toda criatura”, e destacamos que em Mateus 25, na
parábola do Senhor, não foi um estranho, mas um servo; não um imoral, mas um
inútil, que foi lançado nas trevas exteriores, onde há choro lê ranger de
dentes. “Se me amais”, disse o nosso
mestre, “guardareis os meus mandamentos!;
e um deles foi: “De graça recebestes, de graça daí”.
Mostramos
que nas sete províncias da China propriamente dita, ficando para os
missionários protestantes e seus assistentes nativos muito mais do que eles podem
possivelmente realizar, continua uma multidão imensa também ainda fora do
alcance do evangelho.
Mostramos
que existem, outrossim, outras onze províncias na China propriamente dita ainda
mais carentes – onze províncias das quais a menorzinha excede a população da
Birmânia, ou da Escócia e Irlanda juntas. E o que dizer das vastas regiões da
Tartária e do Tibete – mais extensas do que todo o continente da Europa, todas
sem nenhum missionário protestante a não ser os quatro em Yangkow?
As
reivindicações de um império como este deveriam não só ser certamente
admitidas, mas também satisfeitas! Será que os interesses eternos de um quinto
da raça humana não despertam as mais profundas simpatias de nossa natureza, os
mais extenuantes esforços de nossas capacidades que foram compradas com sangue?
Será
que os gemidos da miséria desamparada e sem esperança ouvidos lentos em ouvir e
não despertam nosso espírito, alma e corpo, para um grande, continuo e
insuperável esforço no sentido de salvar a China?
Que
na força e no poderes de Deus, possamos arrebatar a presa das mãos dos
poderosos, que possamos arranca-la do fogo eterno lê salvar aqueles cativos da
escravidão do pecado e de Satanás, para exaltar o triunfo do Rei soberano e
para reluzir para sempre como estrelas na Sua coroa!
Não
podemos deixar de crer que a contemplação destes fatos solenes já despertou
muitas orações sinceras. “Senhor, o que queres que eu faça, para que o Teu nome
seja santificado, o Teu reino venha e a Tua vontade possa ser cumprida na
China?”
É
o meditar nestes fatos e com oração e a percepção cada vez maior dos terríveis
problemas da China, destituída de tudo o que pode tornar o homem
verdadeiramente feliz, que constrange o autor a colocar as suas reivindicações
como um pesado fardo sobre os corações daqueles que já experimentaram o poder
do sangue de Cristo, e buscar, primeiro com o Senhor e, então, com o Seu povo,
os homens e os meios para levar o evangelho a todas as partes desta terra não
civilizada. Temos de nos haver com Ele que é o Senhor de toda força e poder,
cujo braço não foi encurtado, cujo ouvido não está surdo; com Aquele cujas
palavras imutáveis levam-nos a pedir e a receber, para que o nosso gozo seja
completo; e abrir bem as nossas bocas, para que Ele possa enchê-las. E faríamos
bem em nos lembrar de que este Deus gracioso, que condescendeu em colocar o Seu
poder excelso as ordens da oração da fé, não olha com leviandade para a culpa
de sangue daqueles que negligenciam o bem-estar dos que perecem; pois Ele
disse: “Livra os que estão sendo levados para a morte, e salva os que
cambaleiam indo para serem mortos. Se disseres: Não o soubemos, não o perceberá
aquele que pesa os corações? Não o saberá aquela que atenta para a tua alma? E
não pagará ele ao homem segundo as suas obras?”
Tais
considerações nos levam a sentir, de tal modo a imensa necessidade de mais
obreiros para a China, e não hesitamos em pedir ao grande Senhor da seara que
chame, que envie, vinte e missionários e evangelistas nativos, a fim de implantarem o
símbolo da cruz em todos os distritos não evangelizados da China propriamente
dita e da Tartária chinesa.
As
mesmas considerações nos levam a clamar a Deus por muito mais. Aqueles que
nunca foram chamados para provar a fidelidade do Deus que cumpre as alianças,
no suprimento, na resposta às orações, nas necessidades financeiras dos Seus
servos, talvez achem que é uma experiência perigosa enviar evangelistas a uma
terra pagã distante, tendo “apenas Deus para cuidar deles”.
Mas
para aqueles cujo privilégio tem sido já há muitos anos experimentar a
fidelidade de Deus, em diversas circunstancias – em casa e no estrangeiro, por
terra e por mar, na enfermidade e na saúde, nas necessidades, nos perigos e
diante da morte – tais apreensões seriam totalmente indesculpáveis.
Temos
visto Deus, em resposta às orações, acalmando tempestades, alterando a direção
do vento e dando chuva no meio de prolongada seca. Ele O tem visto em resposta
às orações, acalmando os impulsos irados e as intenções assassinas de homens
violentos, e reduzindo a nada as maquinações dos inimigos do Seu povo. Temos visto
Deus em resposta às orações, restaurando a saúde dos moribundos quando todo o
auxílio humano era vão, ele o viu preservar da epidemia que se propaga nas
trevas e da destruição que ataca ao meio-dia.
Temos
visto e experimentado a fidelidade de Deus em suprir os meios financeiros para
as nossas próprias necessidades temporais, e para as necessidades da obra na
qual se tem ocupado.
Temos
visto Deus, em resposta à oração, levantando muitos obreiros, não apenas uns
poucos, para este imenso campo missionário; suprindo os meios necessários para
suas roupas, passagens e sustento; e derramando bênçãos sobre os esforços de
muitos deles, tanto entre os cristãos nativos como entre os chineses pagãos nas
quatorze das dezoito províncias mencionadas.
(Extraído
de China’s Spiritual Needs and Claims (“As Necessidades e os Clamores
Espirituais da China”), por J. Hudson Taylor, 1895).
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