O APÓSTOLO DA FÉ - BIOGRAFIA MISSIONÁRIA - PRIMEIRA PARTE
GEORGE MÜLLER
"Pela fé, Abel... Pela fé, Noé... Pela fé, Abraão..." Assim
é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio
dos homens que ousavam confiar unicamente nele. Foi no século XIX que Deus
acrescentou o seguinte a essa lista: "Pela fé, Jorge Müller levantou orfanatos,
alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes em redor do globo e
ganhou multidões de almas para Cristo".
Jorge Müller nasceu em 1805, de pais que não conheciam a Deus.
Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se
para pregar o Evangelho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter
uma vida cômoda. Gastou esses primeiros anos de estudo nos mais desenfreados
vícios, chegando, certa vez, a ser preso por vinte e quatro dias. Jorge, uma
vez solto, esforçava-se nos estudos, levantando-se às quatro da manhã e
estudando o dia inteiro até as dez da noite. Tudo isso, porém, ele fazia para
alcançar uma vida descansada de pregador.
Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa
transformação na vida desse moço. Assistiu a um culto onde os crentes, de
joelhos, pediam que Deus fizesse cair sua bênção sobre a reunião. Nunca se
esqueceu desse culto, em que viu, pela primeira vez, crentes orando ajoelhados;
ficou profundamente comovido com o ambiente espiritual a ponto de buscar
também a presença de Deus, costume esse que não abandonou durante o resto da
vida.
Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser
missionário, que passou dois meses hospedado no famoso orfanato de A. H. Frank.
Apesar de esse fervoroso servo de Deus, o senhor Frank, ter morrido quase cem
anos antes (em 1727), o seu orfanato continuava a funcionar com as mesmas
regras de confiar inteiramente em Deus para todo o sustento.
Mais ou menos ao mesmo tempo em que Jorge Müller hospedou-se no
orfanato, um certo dentista, o senhor Graves, abandonou as Suas atividades que
lhe davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser missionário na
Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para suprir todo o seu sustento.
Foi assim que Jorge Müller, o novo pregador, recebeu nessa visita a inspiração
que o levou mais tarde a fundar seu orfanato sobre os mesmos princípios.
Logo depois de abandonar sua vida de vícios, para andar com
Deus, chegou a reconhecer o erro, mais ou menos universal, de ler muito acerca
da Bíblia e quase nada da Bíblia. Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua
inspiração e o segredo do seu maravilhoso crescimento espiritual. Ele mesmo
escreveu: "O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e a usar a
simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando,
a primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras,
aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses."
E acrescentou: "A maior diferença, porém, foi que recebi,
assim, força verdadeira para a minha alma". Antes de falecer, disse que
lera a Bíblia inteira cerca de duzentas vezes; cem vezes o fez estando de
joelhos.
Quando estava ainda no seminário, nos cultos domésticos de
noite com os outros alunos, freqüentemente continuou orando até a meia-noite.
De manhã, ao acordar, chamava-os de novo para a oração, às seis horas.
Certo pregador, pouco tempo antes da morte de Jorge Müller,
perguntou-lhe se orava muito. A resposta foi esta: "Algumas horas todos os
dias. E ainda, vivo no espírito de oração; oro enquanto ando, enquanto deitado
e quando me levanto. Estou constantemente recebendo respostas. Uma vez
persuadido de que certa coisa é justa, continuo a orar até a receber. Nunca
deixo de orar!... Milhares de almas têm sido salvas em respostas às minhas
orações... Espero encontrar dezenas de milhares delas no Céu... O grande ponto
é nunca cansar de orar antes de receber a resposta. Tenho orado 52 anos,
diariamente, por dois homens, filhos dum amigo da minha mocidade. Não são ainda
convertidos, porém, espero que o venham a ser. - Como pode ser de outra forma?
Há promessas inabaláveis de Deus e sobre elas eu descanso".
Não muito antes de seu casamento, não se sentia bem com o
costume de salário fixo, preferindo confiar em Deus em vez de confiar nas
promessas dos irmãos. Deu sobre isso as três seguintes razões:
1) "Um salário significa uma importância designada,
geralmente adquirida do aluguel dos bancos. Mas a vontade de Deus não é alugar
bancos (Tiago 2.1-6)".
2) "O preço fixo dum assento na igreja, às vezes, é pesado
demais para alguns filhos de Deus e não quero colocar o menor obstáculo no
caminho do progresso espiritual da igreja".
3) "Toda a idéia de alugar os assentos e ter salário
torna-se tropeço para o pregador, levando-o a trabalhar mais pelo dinheiro do
que por razões espirituais".
Jorge Müller achava quase impossível ajuntar e guardar dinheiro
para qualquer imprevisto, e não ir direto a Deus. Assim o crente confia no
dinheiro em caixa, em vez de confiar em Deus.
Um mês depois de seu casamento, colocou uma caixa no salão de
cultos e anunciou que podiam deitar lá as ofertas para o seu sustento e que,
daí em diante, não pediria mais nada, nem a seus amados irmãos; porque, como
ele disse, "Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço de
carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor".
O primeiro ano findou com grande triunfo e Jorge Müller disse
aos irmãos que, apesar da pouca fé ao começar, o Senhor tinha ricamente
suprido todas as suas necessidades materiais e, o que foi ainda mais
importante, tinha-lhe concedido o privilégio de ser um instrumento na sua
obra.
O ano seguinte foi, porém, de grande provação, porque muitas
vezes não lhe restava nem um xelim. E Jorge Müller acrescenta que no momento
próprio a sua fé sempre foi recompensada com a chegada de dinheiro ou alimentos.
Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pediu ao
Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas horas sem qualquer resposta.
Então chegou uma senhora e perguntou: - "O irmão precisa de
dinheiro?" Foi uma grande prova da sua fé, porém, o pastor respondeu: -
"Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu salário, que só
informaria o Senhor a respeito das minhas necessidades". -
"Mas", respondeu a senhora, "Ele me disse que eu lhe desse
isto", e colocou 42 xelins na mão do pregador.
Outra vez passaram-se três dias sem terem dinheiro em casa e
foram fortemente assaltados pelo Diabo, a ponto de quase resolverem que tinham
errado em aceitar a doutrina de fé nesse sentido. Quando, porém, voltou ao seu
quarto achou 40 xelins que uma irmã deixara. E ele acrescentou então:
"Assim triunfou o Senhor e nossa fé foi fortalecida".
Antes de findar o ano, acharam-se de novo inteiramente sem
dinheiro, num dia em que tinham de pagar o aluguel. Pediram a Deus e o
dinheiro foi enviado. Nessa ocasião, Jorge Müller fez para si a seguinte regra
da qual nunca mais se desviou: "Não nos endividaremos, porque achamos
que tal coisa não é bíblica (Romanos 13.8), e assim não teremos contas a pagar.
Somente compraremos o que pudermos, tendo o dinheiro em mãos, assim sempre saberemos
quanto realmente possuímos e quanto temos o direito de gastar".
Deus, assim, gradualmente treinava o novo pregador a confiar nas
suas promessas. Estava tão certo da fidelidade das promessas da Bíblia, que não
se desviou, durante os longos anos da sua obra no orfanato, da resolução de não
pedir ao próximo, e de não se endividar.
Um outro segredo que o levou a alcançar tão grande bênção de
confiarem Deus, foi a sua resolução de usar o dinheiro que recebia somente
para o fim a que fora destinado. Essa regra nunca infringiu, nem para tomar
emprestado de tais fundos, apesar de se ter achado milhares de vezes face a
face com as maiores necessidades.
Nesses dias, quando começou a provar as promessas de Deus, ficou
comovido pelo estado dos órfãos e pobres crianças que encontrava nas ruas.
Ajuntou algumas dessas crianças para comer consigo às oito horas da manhã e a
seguir, durante uma hora e meia, ensinava-lhes as Escrituras. A obra aumentou
rapidamente. Quanto mais crescia o número para comer, tanto mais recebia para
alimentá-las até se achar cuidando de trinta a quarenta menores.
Ao mesmo tempo, Jorge Müller fundou a Junta para o Conhecimento
das Escrituras na Nação e no Estrangeiro. O alvo era: 1) Auxiliar as
escolas bíblicas e as escolas dominicais. 2) Espalhar as Escrituras. 3)
Aumentar a obra missionária. Não é necessário acrescentar que tudo foi feito
com a mesma resolução de não se endividar, mas sempre pedir a Deus, em
secreto, todo o necessário.
Certa noite, quando lia a Bíblia, ficou profundamente
impressionado com as palavras: "Abre bem a tua boca, e a encherei"
(Salmo 81.10). Foi levado a aplicar essas palavras ao orfanato, sendo-lhe dada
a fé de pedir mil libras ao Senhor; também pediu que Deus levantasse irmãos com
qualificação para cuidar das crianças. Desde aquele momento, esse texto (Salmo
81.10), serviu-lhe como lema e a promessa se tornou em poder que determinou
todo o curso da sua vida.
Deus não demorou muito a dar a sua aprovação de alugar uma casa
para os órfãos. Foi apenas dois dias depois de começar a pedir, que ele
escreveu no seu diário: "Hoje recebi o primeiro xelim para a casa dos
órfãos".
Quatro dias depois foi recebida a primeira contribuição de
móveis: um guarda-roupa; e uma irmã ofereceu dar seus serviços para cuidar dos
órfãos. Jorge Müller escreveu naquele dia que estava alegre no Senhor e
confiante em que Ele ia completar tudo.
No dia seguinte, Jorge Müller recebeu uma carta com estas
palavras: "Oferecemo-nos para o serviço do orfanato, se o irmão achar que
temos as qualificações. Oferecemos também todos os móveis, etc, que o Senhor
nos tem dado. Faremos tudo isto sem qualquer salário, crendo que, se for a
vontade do Senhor usar-nos, Ele suprirá todas as nossas necessidades".
Desde aquele dia, nunca faltaram, no orfanato, auxiliares alegres e devotados,
apesar de a obra aumentar mais depressa do que Jorge Müller esperava.
Três meses depois, foi que conseguiu alugar uma grande casa e
anunciou a data da inauguração do orfanato para o sexo feminino. No dia da
inauguração, porém, ficou desapontado: nenhuma órfã foi recebida. Somente
depois de chegar a casa é que se lembrou de que não as tinha pedido. Naquela
noite humilhou-se rogando a Deus o que anelava. Ganhou a vitória de novo, pois
veio uma órfã no dia seguinte. Quarenta e duas pediram entrada antes de findar
o mês, e já havia vinte e seis no orfanato.
Durante o ano, houve grandes e repetidas provas de fé. Aparece,
por exemplo, no seu diário: "Sentindo grande necessidade ontem de manhã,
fui dirigido a pedir com insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão
deu-me dez libras". Muitos anos antes da sua morte, afirmou que, até
aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no
mesmo dia em que fazia o pedido.
Era seu costume, e recomendava também aos irmãos, guardar um
livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em
que recebera a resposta. Dessa maneira, foi levado a desejar respostas
concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.
GEORGE MÜLLER
(Extraido do livro hérois da fé)
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