ANTROPOLOGIA CULTURAL
COSTUMES E
CULTURAS
Porquanto
não há distinção entre judeu e grego; porque o mesmo Senhor o é de todos, rico
para com todos os que o invocam. Como pois invocarão aquele em quem não creram?
e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem
pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Rm 10.12,14,15
Em se tratando de
costumes e culturas, é muito importante
que separemos o que é bíblico e o que é cultural. Cada lugar tem sua própria
cultura. Entendemos que o trabalho do Senhor deve ser feito baseado na Bíblia e
na cultura do próprio país, e não na cultura de outros países.
Por exemplo, nos EUA a
maioria das igrejas realiza seus cultos de domingo às 11 horas. Isto quer dizer
que os cultos no Brasil têm que começar às 11 horas? Não!
Nos EUA, as igrejas usam
músicas do hinário. Isto quer dizer que as igrejas no Brasil têm que usar
música do hinário? Não!
Elas podem, se quiserem!
Mas também podem cantar música brasileira, usando instrumentos brasileiros. A
igreja pode usar, por exemplo, guitarras, pistões, baterias e outros
instrumentos que são usados no Brasil.
No Zimbábue, África, a Igreja
Batista usa bateria e canta música africana. Lembre-se que música não é louvor.
Música é um dos meios de louvar. É um meio de expressar seus sentimentos a
Deus. Por esta razão, é importante que a música reflita a cultura do povo e não
necessariamente a cultura do missionário.
É impossível ser um
missionário eficaz a menos que se perceba este princípio de discernimento
acerca da cultura do povo local.
Muitos missionários em
todas as épocas têm enfrentado grandes problemas para comunicar a Palavra de
Deus e aplicá-la socialmente em outros países. E tentarmos entender o modo de
vida de um povo diferente através de nossos próprios “óculos culturais”, vamos
cometer erros sérios e freqüentes.
Daí a necessidade de
estudarmos um pouco de antropologia cultural, buscando entender as razões da
maneira de pensar, agir e viver de outros povos dentro ou fora de nosso próprio
país.
CHOQUE CULTURAL
Cada povo tem sua
própria idéia (cosmovisão) a respeito de um assunto qualquer. São exemplos:
1. QUANTO
AOS COSTUMES
- No Haiti é costume
participar do culto usando chapéu;
- São boas maneiras
nas Filipinas limpar assentos, pratos, etc com lenços antes de usá-los;
- No Japão é ética
social curvar-se diante de uma pessoa para cumprimentá-la;
- Na China, as
pessoas pensavam que os missionários louvavam as cadeiras, porque
ajoelhavam de frente para elas;
- Na África do Sul uma brasileira poderia levar um susto ao cumprimentar outra mulher: beijo nos lábios;
1. QUANTO
A LÍNGUA
·
Na África, para os Karré, as emoções estão
localizadas no fígado e não no coração.
·
Para os conobos, na Guatemala, no abdômen e para os
habitantes das Ilhas Marshall, há dez anos atrás, as emoções estavam
localizadas na garganta.
A diversidade humana
nunca foi vista como um fato, como algo natural. A diferença sempre tem de ser
explicada, justificada, seja por formas religiosas, seja por formas
científicas. Exemplos de etnônimos indígenas:
- Índios Guarani:
“Ava” = “os Homens”
- Índios Guayaki:
“Aché” = “as Pessoas”
- Índios Waika:
“Yanomami” = “a Gente”
- Esquimós: “Innuit”
= “os Homens”
RELATOS DOS VIAJANTES E
DOS MISSIONÁRIOS:
- Primeiro momento:
critério religioso – ter ou não ter alma? Seriam tratados como animais ou
como gente? Poderiam ser escravizados? Poderiam ser catequizados?
- 1517: julgamento de
freis espanhóis: Deveriam concluir a qual das duas categorias, correntes
na época, os índios pertenceriam: o ‘nobre selvagem’ ou o ‘cão imundo’.
- 1537: bula papal
emitida pelo Papa Paulo III declarando que os índios eram ‘verdadeiros
homens’, portanto, ‘possuíam alma’.
Assim, em toda a Historia,
“[…] o outro não é considerado para si mesmo. Mal se olha para o Outro. Olha-se
a si mesmo nele.” (Bartolomé). E nesse choque com o diferente pode-se matar um
povo seja através do genocídio ou do etnocídio.
O genocídio designa a
morte física de um povo praticado desde o primeiro momento pelos colonizadores
europeus no Novo Mundo; um conceito criado após a 2ª Guerra Mundial para
denominar o extermínio dos judeus pelo nazismo alemão. Parte do principio de
que a diferença do outro é má e não pode ser mudada, portanto, o outro deve ser
exterminado. Ex.: Massacre de sete mil índios na conquista de Cuba.
O etnocídio por sua vez
designa a morte cultural de um povo. Um conceito criado nos anos 60 para
definir uma ação que é constantemente praticada contra os povos indígenas nas
Américas, desde o século XVI até os nossos dias. O princípio é: a diferença do
outro é má, mas pode ser mudada. O outro pode virar um ‘eu’. Ex.:
catequese pelos jesuítas.
ALGUNS CONCEITOS
1. Antropologia
à Estudo do ser humano, a ciência da cultura humana, a ciência dos grupos
humanos, seu comportamento e suas produções (Kroeber).
2. Cultura
à Não significa o grau de estudo de uma pessoa. É o conjunto de comportamento e
idéias característicos de um povo, que se transmite de uma geração a outra e
que resulta da socialização e aculturação verificadas no decorrer de sua
história. Vem de “culto”, veneração e respeito a alguma coisa ou alguém.
3. Costumes
à Tradição: práticas observadas e transmitidas de geração a geração.
4. Aculturação
à Fenômeno do contato e interpenetração de culturas diferentes. Implico em,
modificações nas estruturas e nas funções de dois grupos culturais em contato.
5. Etnia
à Grupo humano caracterizado pelo sua psicologia e cultura, relativo ao
pensamento e ao espírito humano.
6. Povo à
Grupo de indivíduos de limitações principalmente pela língua.
7. Nação
à Cidadãos de um Estado, vivendo no mesmo território, sujeitos a um mesmo
governo e regidos pelas mesmas leis e interesses.
RELAÇÕES SOCIAIS
A primeira associação do
homem com a sociedade ocorre na família biológica. A partir daí ampliam-se os
grupos sociais e o homem se relaciona com toda a humanidade.
As motivações para
formação de grupo são varias: Família biológica. Sexo, Idade, Profissão, etc.
Na constituição da
família, as culturas têm diferentes costumes:
- Sexo antes do
casamento – Zaire: troca até descobrir a certa;
- Poligamia – África:
esposa da aldeia (poliandria), Marrocos – esposas de um homem (poliginia);
- Divórcio – Causas:
adultério, esterilidade, doença, “incompatibilidade”;
- Vida Familiar –
Birmânia: um povo mata os gêmeos e expulsa os pais; China: veneração aos
avós;
- Educação –
Pré-letradas: baixo índice de crimes devido à ênfase na tradição e à
importância do individuo;
- Adolescência –
Ritos de passagem entre índios brasileiros;
- Suicídio – Não são
contra: esquimós, a viúva de indiano (oferta a Shiva), japoneses na
guerra.
O MODELO DE CRISTO
Muitas vezes saímos de
nossa terá pensando que somos os melhores, que nossos costumes é que são
corretos. Julgamos as atividades dos outros, sem entender por que aquele povo
está agindo daquela forma, e agimos conforme nossos costumes sem saber que
estamos sendo analisados por eles.
A comunicação do
Evangelho é muito difícil se não imitamos Jesus, o qual, para se fazer
compreendido e mostrar amor, identificou-se com os homens, não só encarnando-se
na forma humana, mas também se encarnando culturalmente.
“Ele veios para os
seus…” Os seus eram o povo judeu. Por isso, Ele falou a língua deles, vestiu-se
conforme os costumes deles na época, comeu o que eles comiam, dormiu onde eles
dormiam – enfim, Jesus foi um judeu como todos os outros, humanamente falando.
Apesar das dificuldades,
a nossa mensagem é o Evangelho, que é compreensível a todos. Por mais diversas
que sejam as culturas e línguas, o Evangelho pode ser transmitido a todos, sem
exceção, observando-se os três aspectos fundamentais para todos os que o ouvem:
- É uma mensagem que
satisfaz ao ser humano em todos as áreas da sua vida.
- Precisa ser
compreendido por todas as pessoas em termos conhecidos dentro da sua
maneira de pensar e viver.
- O Espírito Santo é
quem deve expressar para os convertidos a maneira de viver a vida cristã,
visto que nenhuma cultura conseguiu ainda a perfeita expressão disso.
EM TODAS AS CULTURAS HÁ
COSTUMES DA TRADIÇÃO, SEM FUNDAMENTOS NO PRESENTE:
- O número de botões
na manga do paletó – ajuda com camisas de rendas na manga
- O vestido de noiva
branco – símbolo de virgindade.
- O uso do chapéu e
bengala no Brasil – moda de época.
É preciso descobrir um
ponto de concordância com um povo ou raça, ao invés de iniciar um trabalho
descobrindo e apontando defeitos.
- Ser sensível às
necessidades alheias. Jo. 3.4;
- Ser sensível ao
contexto de vida alheia. At. 127.22-31.
- Ser sensível a uma necessidade peculiar. I Co. 9.19-22.
Cada nação tem mais de
uma cultura. Cada uma tem multiculturas e subculturas. É importante que o
pioneiro conheça e entenda a cultura do povo na área em que ele trabalha e não
tente mudar a cultura, mas o coração. O que deve ser mudado na cultura são as
coisas antibíblicas.
Por exemplo: em algumas
florestas do mundo, os índios praticavam o sacrifício de bebês. Isto é
antibíblico. Neste caso, o pioneiro deveria mudar a cultura pregando o
evangelho.
O ponto principal é que
cada região do país tem sua própria cultura, e é importante que o trabalho do
pioneiro seja baseado na cultura do povo local, em vez de na cultura de uma
outra região ou país, e deixe o evangelho mesmo mudar as coisas antibíblicas da
cultura local.
VELHOS COSTUMES E NOVOS CAMINHOS
O missionário transcultural no seu contato com
outra cultura, normalmente passa por três fases: Turística, Choque Cultural e
Adaptação Cultural.
SÃO PROBLEMAS QUE OS
MISSIONÁRIOS ENFRENTAM:
- Poligamia: o que a
Bíblia realmente diz?
- Estruturação de
igrejas: construção de templos, novo perfil – autóctones;
- Conversão em massa:
“faca de dois gumes”;
- Dificuldade de
Identificação: vencer o complexo de superioridade e comungar com o povo.
Segundo Bárbara Burns,
há três tipos de costumes e devem ser tratados de forma especificas:
- Costumes que devem
ser rejeitados: idolatria, racismo, casta, casamento de criança, homicídio
de recém-nascidos.
- Costumes a serem
incentivados: banho diário, boas relações familiares, boa alimentação…
- Costumes neutros:
posição para orar, oração coletiva ou individual, tipos de comida,
vestuário, etiqueta.
São necessárias
situações básicas para se estabelecer um relacionamento transcultural:
- Respeito para com
as de outra cultura
- Diferença de ponto
de vista
- Formar igrejas
autônomas
- Prepara obreiros
nacionais
CRISTO: ANTES E ACIMA DE TUDO…
O Cristianismo é uma
experiência continua com Cristo. Não é ser membro de uma igreja, cumprir
rituais do culto, mas aplicar os princípios bíblicos básicos na vida cotidiana
e seguir a Jesus a cada dia mais de perto.
Há numerosas maneiras de
se aproveitar o que existe entre os povos para comunicar o Evangelho. É
necessário, porém, que o missionário seja equipado com sabedoria,
flexibilidade, uma mente aberta e capacidade para analisar à luz da Bíblia, o
que realmente pode utilizar para a glória de Deus.
REFERÊNCIAS
BURNS,
Bárbara, Costumes e Culturas: uma introdução à antropologia missionária, 2ª Ed.
São Paulo: Vida Nova.
GUIMARÃES,
Sebastião Lúcio. Crônicas Missionárias. Viçosa: Ultimato
SHEIKH,
Bilquis. Atrevi-me a chamar-lhe pai. São Paulo: Vida.
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