MISSIONÁRIO & RECURSOS

 

ESCREVER CARTAS É UMA ARTE


Texto de autoria: Missionária Monica de Mesquita



Creio que não será difícil escreve este capítulo. A razão é simples! Adoro cartas! Gosto de escrevê-las, lê-las, corrigi-las, enviá-las, recebê-las. Trabalho com cartas missionárias desde o início da década de 90. Depois desses anos todos obtive subsídios que me fizeram compreender melhor como elas funcionam.

Em se falando de missões, missionários, ministérios, parceiros, intercessores, igrejas locais, agências missionárias, conselhos missionários e tudo o mais que envolva o leque de relacionamentos de um missionário, uma coisa é certa: MUITAS cartas serão escritas... sempre! Não serão quaisquer cartas, mas cartas objetivas e com finalidades especificas.

Quando me refiro a “cartas”, até aqui, não entrei ainda na discussão se são de papel ou eletrônicas. Refiro-me ao texto em si. Mais adiante falaremos especificamente de e-mails.

No escopo de um ministério, haverá, pelo menos, quatro tipos de cartas com as quais o missionário trabalhará.

CARTA DE APRESENTAÇÃO

É a carta escrita por sua agência missionária, ou órgão similar, informando ao leitor quem você é, qual a sua atribuição, qual o seu projeto, qual sua posição dentro do contexto daquele órgão.

Essa carta oferecerá ao missionário a credibilidade necessária para que as portas se abram e ele estabeleça bons contatos e favor de seu projeto missionário. Ela deve ser impressa em papel timbrado, devidamente assinado pela pessoa responsável por aquela organização e deve conter um destinatário específico. Não será uma carta circular, mas escrita por alguém e para alguém especificamente.

É claro que se você for enviar 100 cartas, não precisará fazer 100 diferentes cartas. Pode pegar o mesmo modelo e inserir o destinatário de cada uma. É importante que essa carta contenha os dados do remetente (nome, endereço, e-mail. Etc.) e, se for o caso, do missionário também.

Lembre-se de que sua organização só poderá enviar tais cartas se estiver de posse dos devidos endereços. Sendo assim, o missionário deve confeccionar sua lista de contatos, com o maior número de dados possível, além de mantê-la sempre atualizada.

A Carta de Apresentação, na maioria dos casos exerce a função de “abre alas” para o missionário, pois as pessoas e igrejas que a recebem entendem que o referido missionário é um membro ativo e aprovado por aquela organização, e que seu ministério é confiável e relevante para o Reino de Deus.

CARTA DE AGRADECIMENTO

É a carta que o missionário envia a todas as igrejas e pessoas que de alguma maneira participaram de seu ministério ou abençoaram a sua vida, seja através de hospedagem, doação de qualquer espécie, contribuição financeira, tratamento médico, ajuda com documentos, apoio em momentos de crise, intercessão, etc. São incontáveis as maneiras de alguém se envolver com um missionário.

Conheço missionários que receberam milhas aéreas, que receberam equipes voluntárias para a construção de uma casa na aldeia, que receberam doação de motores a diesel, doação de veículos, ou algo mais simples, como um corte de cabelo, uma sacola de roupas ou uma ida a um restaurante. Não importa o que tenha sido tudo deverá ser agradecido.

Como toda regra tem exceção, é preciso que se diga que, em alguns poucos casos, os contribuintes dirão que não é necessário o envio de agradecimentos ou recibos.

Imagine a alegria daquela senhora que o hospedou há duas semanas, por ocasião de sua passagem pela igreja dela, ao receber uma curta e singela cartinha expressando sua gratidão pela hospitalidade. Ou então a satisfação daquele irmão, fiel intercessor, ao receber seu e-mail reconhecendo a importância e o valor da participação dele em seu ministério. Atitudes assim criam laços de afetividade que, como diz a propaganda de um cartão de crédito, “não têm preço”.

Além da questão do afeto, há outro efeito importante proveniente da Carta de Agradecimento. Quando a igreja local recebe a sua, entende que você de fato recebeu a oferta enviada, e aprecia sua atitude de gratidão. Outro aspecto de toda essa dinâmica é que a Carta de Agradecimento é um estímulo para as pessoas e igrejas continuarem firmes no envolvimento com o seu ministério.

Alguns alunos me questionam: “Mas eu tenho 50 pessoas e igrejas na minha lista que enviam ofertas praticamente todos os meses. Tenho que escrever para todos? Mensalmente? Onde vou arranjar tempo e tanta criatividade para tantas cartas?”.

É claro que em tudo vamos usar o bom senso. Se uma igreja envia ofertas todos os meses, você pode por exemplo enviar uma cartinha a cada três meses.

Outro ponto é que a Carta de Agradecimento não é nenhum jornal. Pode ser um simples cartão postal, um breve e-mail, um cartãozinho confeccionado pelo próprio missionário. Se a quantidade for grande, use o mesmo texto para todas, mudando apenas uma coisinha ou outra. Simples, Não vamos complicar.

CARTA CIRCULAR

Ah... essa aqui é uma delícia de se fazer! Que desafio! Que impacto! Possivelmente a Carta Circular será seu canal de comunicação mais abrangente e mais desafiador!

Ao lê-la, as pessoas devem se sentir parte atuante de seu ministério. Devem ser estimuladas a se envolverem mais. Devem se sentir satisfeitas ao término da leitura. Só há um problema: para que tudo isso ocorra, ela precisa ser LIDA. Será que as pessoas estão lendo as cartas que você escreve?

Durante alguns anos, congreguei em uma igreja onde me empenhei para formar um conselho missionário. Passamos a receber correspondências de vários missionários e de algumas missões. Em nossas reuniões, procurávamos ler as cartas recebidas desde a última vez que nos encontramos.

Um determinado missionário a quem a igreja não conhecia, começou a nos enviar cartas praticamente todos os meses, e com uma característica peculiar todos os envelopes chegavam com um boleto bancário.

Não sei como aquele missionário teve acesso ao nosso endereço. Não sei de onde ele tirou a liberdade de nos enviar aquelas cartas. Os membros do grupo não o conheciam, o pastor da igreja não o conhecia, ele nunca havia visitado a igreja. As cartas simplesmente chegavam e chegavam, até que chegou ao ponto de não haver nenhuma motivação para serem lidas e, por fim, nem o envelope era mais aberto.

Onde está o problema nesse processo? Qual  foi o erro? A resposta não é tão curta. Além do fato de que o missionário deveria já ter ido a igreja, ter tido contato com o conselho missionário e com o pastor, ele deveria ser observado passos importantes antes de começar o envio daquelas cartas. É preciso que se esclareça que as cartas que ele mandava eram cartas circulares, daquelas que são enviadas a várias pessoas, compartilhando os últimos fatos relacionados ao ministério.

Esse missionário, após ter cumprido etapas que são básicas, como as já aludidas, deveria, enviar suas cartas nomeadas à pessoa certa, previamente contatada, as cartas deveriam observar um maior espaço de tempo no envio; carta circular não é um pretexto para “pedir dinheiro”, é uma carta que tem por objetivo principal informar a respeito do ministério, compartilhar pedidos e respostas de oração, apontar os próximos passos e, além disso, deve ser escrita de maneira que estimule e contagie as pessoas a se manterem firmemente envolvidas com o ministério.

Eu aconselho meus alunos a que enviem no mínimo 4 (3 em 3 meses) e no máximo 6 (2 em 2 meses) cartas circulares por ano. Devem ser cartas de no máximo duas páginas.

Ocasionalmente devem conter fotos. Devem ser muito bem escritas, tanto no que se refere à ortografia quanto à estética. A fonte não pode ser muito pequena, para não dificultar a leitura. Há uma senhora com mais de 90 anos, fiel contribuinte e intercessora de minha família, para quem eu envio uma carta diferenciada, com uma fonte bem grande, pois ela tem vários graus de miopia (e claro que, nesse caso, a carta poderá ter mais do que duas páginas).

A carta circular também deve conter as possibilidades de contato com seu remetente: endereço, e-mail, telefones, skype, etc. Isso parece óbvio, mas não é.

E quando estou falando que “a carta deve conter” não me refiro ao envelope. Certa feita, eu estava com um casal de amigos, fazendo-lhes uma visita, e eles mencionaram seu desejo de enviar uma oferta para um missionário que estava em outro país e que dissera em sua última carta que estava precisando muito abrir um poço na aldeia onde vivia.

O referido missionário explicou os detalhes na carta e aquele casal que abençoá-lo. Só havia um problema: o papel em que a carta fora impressa não trazia nenhuma possibilidade sequer de contato. Não continha nem o nome completo do missionário.

Quando perguntei pelo envelope, eles disseram que não sabiam e que devia ter ido para o lixo. E agora? O que fazer? Foi uma pena, mas aquele missionário deixou de receber uma  boa oferta pelo simples fato de que não era possível entrar em contato com ele.

Algo que deve ser dito é que a Carta Circular não é lugar para sermão. Sermão a gente ouve na igreja, no rádio, na TV ou então em algum site, DVD, MP3 ou outro recurso digital.

Quem recebe a carta do missionário não quer encontrar ali um sermão, mas notícias pertinentes ao trabalho daquele missionário. Não estou dizendo que você não pode compartilhar um versículo, vez por outra, em sua carta, que porventura tenha falado ao seu coração naquele período. Falando nisso, é bom lembrar que não é uma obrigação colocar um versículo em uma carta missionária. Isso pode se tornar um clichê. Como eu já disse, coloque-o se houver uma razão.

Veja o trecho que selecionei de uma carta que recebi: “Peço suas orações pela saúde do meu filho, por causa das crises de bronquite. Ore também pela minha esposa, para que seja curada da artrite e dores na coluna. Ore por mim, em relação à diabetes e às dores de cabeça...” Na verdade, foram 8 linhas discorrendo sobre os problemas de saúde da família.

Agora pergunto: é assim que deve ser uma carta missionária? Sim? Não? Talvez? Mais ou menos? Qual a resposta certa?

Vejamos você, como leitor, Você ora, esporadicamente, por determinado missionário e quase mensalmente, envia ofertas a ele. A cada três meses, mais ou menos, chega uma carta em sua casa e de  vez em quando um e-mail em sua caixa postal.

O que você espera ler nessa carta? Noticias detalhadas e pertinentes sobre aquele ministério ou apenas um rol enorme com relatos de doenças da família: Claro que se você souber que o missionário e/ou a família passa por enfermidades, como intercessor, você poderá orar e orar especificamente, mas será que TODAS as cartas precisam trazer uma lista de doenças? 

Confesso  que me sinto meio que coagida, quando leio tais conteúdos, e pensar assim: “Tadinho do missionário! Quantas doenças! Quanto sofrimento!”  Agora pergunto: “Ei! Será que é só o missionário que fica doente? E eu? Quem sabe o que estou passando? Alguém tem orado por mim? Será que o crente comum! É isento de sofrimento? Só o missionário sofre?

Quando vou escrever minhas cartas circulares, costumo fazê-la da maneira mais pessoal possível. Jà que é uma carta enviada a um grande numero de pessoas, esse recurso pode torná-la mais próxima de quem a lê. Há uma boa dica que você pode adotar ao escrever sua Carta Circular: pense no seu melhor amigo. Pensou! Ótimo. Agora escreva uma carta pra ele. Pronto. É quase certo que essa carta ficará excelente!

Literatos de todas as épocas observam recursos lingüísticos que causam efeito de aproximação ou afastamento do leitor. Vamos aproveitar e pegar uma carona com eles. Primeiramente, não se refira a si mesmo na terceira pessoa do plural. Esse é um erro freqüente com que me deparo. O missionário  vai falar de algo que fez e diz: “Nós estivemos por 20 dias indo e vindo ao consulado, mas infelizmente eles ainda não deram resposta quanto ao nosso visto”. “Nós” quem? Ele estava se referindo a si mesmo e, além do mais, era um  rapaz solteiro. Além de ficar muito feito, causa um efeito distanciador em relação ao seu leitor.

Outra coisa que me “ARREPIA” é quando leio algo assim: “Eu (Luis Carlos) dei as primeiras aulas de leitura para os maiores, enquanto minha esposa (Maria Alice) ficava com os pequeninos na outra sala”.  Quer coisa mais impessoal? O nome dos missionários entre parênteses? Será que a pessoa que está lendo a carta não sabe o nome deles? Se não souber, talvez não devesse ter recebido a carta.

Outra abordagem talvez pior que essa é aquela em que o enunciador (aquela voz que supostamente está escrevendo a carta) resolve usar a terceira pessoa – o que já é desaconselhável – e, ainda, de uma maneira absolutamente inadequada.

Veja só: “Depois que o Júnior  voltou para casa, após mais um dia na construção, a Beth entregou a ele o envelope que acabara de chegar da Missão”. Detalhe: Junior e Beth são o casal de missionários e quem assina a carta é o próprio Júnior.

Dependendo da missão, do missionário, ou do curso que o missionário fez, a Carta Circular pode ter outros nomes: CARTA DE ORAÇÃO, BOLETIM MISSIONÁRIO, CARTA MISSIONÁRIA, INFORMATIVO MINISTERIAL... não importa a nomenclatura: todo se refere à mesma coisa.

Se é que podemos determinar o âmago de uma Carta Circular, eu diria que seu conteúdo precisa mostrar, de alguma maneira, que Deus está sendo glorificado por aquele ministério. É isso que importa. É disso que estamos falando. As pessoas querem saber, no fim das contas, se o Reino de Deus está sendo engrandecido, se o “IDE” de Jesus tem sido cumprido e se ele tem sido glorificado. É isso aí: Nada de uma ladainha de reclamações e autocomiseração.

 

CARTA DE APELO

É a última das quatro cartas a que me referi. O objetivo dessa carta é convidar a pessoa, ou igreja, a se envolver com determinado projeto missionário.

A carta de apelo, deve ser clara, com uma linguagem acessível, com uma boa explicação do projeto a que se refere, das necessidades para a execução desse projeto e, por fim, deve conter, sem rodeios, as opções que a pessoa tem de envolvimento.

A Carta de Apelo pode ir acompanhada por uma cópia do projeto missionário, para que o destinatário tenha uma noção bem elucidada da proposta que está recebendo. Outra ação importante é que a pessoa que lê deve entender muito bem o que precisa fazer no caso de decidir se envolver com aquele projeto: “Receberei um carnê ou um boleto? Preciso ir ao banco fazer um depósito? Posso fazer uma transferência on line?” Enfim, pense em todas as dúvidas que podem surgir e ofereça todas as possibilidades de resposta facilitando ao máximo a compreensão do leitor.

O próprio missionário pode ser o remetente da carta ou então o líder da organização a qual ele pertence.

Não se deve enviar uma Carta de Apelo para a mesma pessoa  mais do que uma vez por ano. Se após um ano de envio a pessoa ou igreja não concedeu nenhuma resposta, você pode fazer uma segunda tentativa.

Uma variação da Carta de Apelo é aquela que é enviada de maneira institucional. Não é o missionário, mas a organização missionária é quem assina e envia a carta, conclamando os leitores a abraçarem determinada causa ou projeto.

É fundamental numa carta como essa a história que será contada. Deve ser uma história real (mesmo que os nomes dos protagonistas precisem ser preservados), que retrate muito bem a maneira como Deus tem usado aquela organização para que haja salvação e glórias a seu Nome.

Um esclarecimento sobre o uso de e-mails – pense sempre na pessoa para quem você enviará um e-mail. Será que ela tem um baixo movimento em sua caixa de entrada? Será que ela é muito ocupada e recebe inúmeros e-mails diariamente? Será que o computador dela possui o programa adequado para abrir seu anexo? Será que a Internet dela tem uma boa velocidade e consegue abrir arquivos muito pesados? Tudo isso faz parte do contexto de comunicação via e-mail. Não envie textos muito longos, nem arquivos muito pesados, com muitas imagens. Utilize programas mais acessíveis à maioria das pessoas. Produza conteúdos resumidos e bem elaborados, que levem o interlocutor a ler a mensagem e não, simplesmente, a apagá-la.

Nunca se esqueça de que o correio convencional, de papel mesmo, ainda existe.

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