CULTURA - O QUE É ISSO?

 


O QUE É CULTURA?

O que é cultura? Para o aluno que está apenas principiando o estudo de antropologia missionária, muitas vezes essa pergunta é a reação inicial a uma coleção confusa de descrições, definições, comparações, modelos, paradigmas, etc. É provável que na língua portuguesa não exista nenhuma outra palavra com sentido mais abrangente do que a palavra “cultura”, e que não exista nenhum outro campo de estudo mais complexo do que a antropologia cultural.

De qualquer maneira, uma compreensão adequada do significado de cultura é um pré requisito para qualquer comunicação eficaz das boas novas do evangelho a um grupo distinto de pessoas.

O primeiro passo num estudo de cultura é dominar a sua própria cultura. Todo mundo tem uma cultura. Ninguém jamais conseguirá se divorciar de sua própria cultura. Embora seja verdadeiro que qualquer um pode vir a apreciar várias diferentes culturas, e até mesmo a se comunicar efetivamente em mais de uma, o fato é que ninguém consegue se elevar acima de sua própria cultura ou de outras culturas de medo a ter uma perspectiva verdadeiramente supra cultural. Por esta razão, mesmo o estudo da própria cultura é uma tarefa difícil. É quase impossível olhar de modo objetivo e completo para algo que é parte de si mesmo.

Um método útil é olhar para uma cultura, visualizando as sucessivas “cascas” (como de uma cebola), ou níveis de entendimento, à medida que se aproxima do verdadeiro cerne da cultura. Para isto, a técnica do “marciano” é bastante útil. Com este exercício simplesmente se imagina que um marciano acabou de chegar (em sua nave espacial) e observa as coisas com olhos de um visitante alienígena.

A primeira coisa que o visitante recém-chegado iria perceber é o comportamento do povo. Esta é a casca mais externa, superficial, que seria observada por um se de fora. Que atividades ele observaria? O que está sendo feito? Vendo pessoas se dirigirem a uma sala de aulas, nosso visitante observaria várias coisas interessantes. Ele vê pessoas entrando em um compartimento através de uma ou mais aberturas. Elas se espalham pela sala de uma maneira aparentemente arbitrária. Outra pessoa, vestida de modo bem diferente das demais, entra e rapidamente se dirige a uma posição certamente pré-determinada de frente para as demais, e começa a falar.

Ao se observar tudo isto, a pergunta pode ser feita: “Por que estão dentro de um compartimento? Por que aquele que fala se veste de modo diferente? Por que há tantas pessoas sentadas enquanto uma fica de pé?” Estas são perguntas acerca do significado. São provocadas pelas observações sobre o comportamento. Pode ser interessante indagar a alguns dos participantes da situação por que estão fazendo as coisas de uma determinada maneira. Alguns talvez dêem uma explicação, outros talvez dêem uma explicação diferente. Mas algumas pessoas provavelmente iriam sacudir os ombros e responder: “É a maneira como fazemos as coisas aqui. “Esta última resposta revela uma função importante da cultura: fornecer “um modelo padronizado de fazer as coisas”, que é como um grupo de antropólogos missionários definiu cultura. Você pode chamar de cultura a “supercola” que une as pessoas e lhes dá um sentimento de identidade e continuidade, que é quase impenetrável. Esta identidade se torna visível de modo mais óbvio na maneira como as coisas são feitas, isto é, no comportamento. 

Ao observar esses habitantes, o nosso visitante do espaço começa a perceber que muitos comportamentos que observou são aparentemente determinados por escolhas semelhantes que as pessoas dessa sociedade fizeram. 

Estas escolhas inevitavelmente refletem a questão dos valores culturais, que é a próxima casca ou nível interior de nossa análise da cultura. Estas questões sempre dizem respeito às escolhas sobre o que é “bom”, o que é “benéfico” ou o que é m “melhor”.

Se este marciano continuasse a indagar às pessoas que estavam dentro do compartimento, poderia descobrir que tinham várias alternativas para passarem seu tempo naquele local. Poderiam estar trabalhando ou se divertindo, em vez de estudando.

Muitas daquelas pessoas escolheram estudar porque acreditavam que era uma escolha melhor do que trabalhar ou se divertir. O marciano também descobriu várias outras escolhas que haviam feito. Muitas pessoas haviam escolhido chegar até aquele compartimento usando pequenos veículos com quatro rodas, porque percebiam que a capacidade de se locomoverem rapidamente era muito benéfica. Além disso, percebeu que alguns entraram correndo dentro do compartimento, quando os demais já haviam entrado, e que de novo saíram correndo da sala, logo que a reunião terminou. Estas pessoas disseram que usar o tempo eficientemente era muito importante para elas. Valores são decisões, “pré-estabelecidas” que uma cultura toma diante de escolhas que freqüentemente se têm de fazer. Os valores ajudam aqueles que vivem dentro da cultura, a saber, o que “deveria” ser feito a fim de se adequarem ou se conformarem ao padrão de vida.

Além das perguntas a respeito de comportamento e de valores, deparamo-nos com uma questão mais fundamental na natureza da cultura. Isto nos conduz a um nível mais profundo de compreensão, que é o nível das crenças culturais. Estas crenças respondem, para aquela cultura especifica, à pergunta: “O que é verdadeiro?”

Numa cultura os valores não são escolhidos arbitrariamente, mas invariavelmente refletem um sistema subjacente de crenças. Por exemplo, na situação da sala de aula pode-se descobrir, depois de uma investigação mais aprofundada, que a “educação” dentro daquele compartimento tem um significado especial devido à percepção que eles têm do que seja verdadeiro acerca do homem, de sua capacidade de raciocínio e de sua capacidade de resolver problemas. Nesse sentido a cultura tem sido definida como maneira de perceber as coisas, maneiras que são aprendidas e compartilhadas, ou então como “orientação cognitiva compartilhada”.

É interessante que este inquiridor do espaço talvez descobrisse que pessoas diferentes naquele compartimento, embora tendo comportamento e valores semelhantes, poderiam professar crenças totalmente diferentes a respeito desses valores e comportamento. E mais, ele talvez descobrisse que os valores e o comportamento às vezes eram contrários às crenças que supostamente os produziam. Este problema é resultante da confusão dentro da cultura entre crenças operacionais (crenças que afetam valores e comportamento) e crenças teóricas (convicções expressas em palavras e que têm um impacto praticamente nulo sobre os valores e o comportamento).

Bem no coração de qualquer cultura está a sua cosmovisão, a qual responde a mais básica das perguntas: “O que é real?” Esta área de cultura tem a ver com as grandes questões “últimas” da realidade, questões que raramente são levantadas, mas para as quais a cultura oferece suas mais importantes respostas. Quase ninguém a quem o marciano indagou já havia pensado seriamente a respeito das pressuposições mais profundas a respeito da vida, pressuposições que explicam sua presença na sala de aula. Quem é?  De onde vieram? Existe alguma outra coisa ou alguém mais a ocupar a realidade, de modo que devesse ser levado em conta? Aquilo que eles vêem é realmente tudo o que existe, ou existe alguém mais ou alguma outra coisa? O momento de agora é o único tempo que é importante? Ou os acontecimentos no passado e no futuro têm algum impacto significativo em sua experiência atual? Cada cultura presume respostas especificas a estas indagações, e tais respostas controlam e integram cada função, cada aspecto e cada componente da cultura.

Esta compreensão da cosmovisão como sendo o cerne de cada cultura explica a confusão que muitos experimentam em nível de suas crenças. A cosmovisão de uma pessoa oferece um sistema de crenças que se reflete em seus reais valores e comportamento. Às vezes um sistema novo ou rival de crenças é introduzido, mas a cosmovisão não é confrontada e permanece sem mudar, de modo que os valores e o comportamento refletem o antigo sistema de crenças. Algumas vezes as pessoas que compartilham o evangelho em situações transculturais deixam de levar em conta o problema da cosmovisão e ficam, portanto, desanimadas com a ausência de mudança genuína que deveria ser produzida por seus esforços.

Esse modelo de cultura é muito simplista para poder explicar a variedade de componentes e relacionamentos complexos que existem em cada cultura. Todavia, é a própria simplicidade do modelo que o recomenda como um esboço básico para qualquer um que vá estudar a cultura.


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